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quarta-feira, 27 de junho de 2012

Pai


Fechado os olhos
lágrimas nos meus
e ali deitado
quem me gerou

Banho pela manhã
2 horas em diante só tortura
eu ria e brincava com poréns
debil garoto que se sujou

Seja forte que agora é hora
dos punhos que vinham contra
e eu sempre ia embora machucado
mas agora eu ria melhor

Mamãe sem nenhuma gota
e aprendi na mesma hora
tia velha chorava forte, tinha garra
mas eu continuava rindo

Seguindo o cortejo em silêncio
eu vi no chão os restos de outros
peguei e joguei o papel ao chão
eu tinha oficializado meu lugar

segunda-feira, 18 de junho de 2012

O manifesto


Junto a minha cultura
crucificado com ela ao centro
e apontaram os dedos contra
antes em cena
o tal jesus
agora em cena
gente com eu e você
sente o peso das botas que usa
e os próprios pés nos esmagam
a união desfeita em vão
ditadores modernos contra si
a perversão religiosa nos custa
o roubo do estado nos custa
a liberdade do princípio materno
e quando olha a vida
não a julgue morta
a verdade nunca faltou

sexta-feira, 15 de junho de 2012

A Flor

A flor no vaso era um punhal
que forçava contra meus olhos
sob a meia luz vinha a semana
eu não enlouquecia pela manhã

Derramava o café garganta abaixo
despertava o interesse e olhava
acontecimentos num circo
se havia sorriso eu não via nenhum

Eu não dava bom dia à ninguém
calava-me durante algum tempo
em silêncio gritava sem ser ouvido
era alguma música que cantava

Olha-me o cachorro fiel
ao meu lado quando escrevia
entre o tédio e o medo
era feliz apenas em momentos

O chão acolheu meus ossos
23 anos amontoados até aqui
pensei que não amaria
me enganei e foi a melhor coisa

E o próximo ato?
copo ou garrafa?
fumaça ou agulha?
Apenas amor

quarta-feira, 6 de junho de 2012

A Mulher da minha vida


"Via-se a estrada
do sossego só tormenta
enumerados e pequenos
das tristes noites mal contei
e os passos tropeçados
do lixo o reino e desgraça
estava eu firme diante do abismo
olhado pelo desespero alheio
por mais sincera chance
com frio sempre fiel da terra natal
quando tentei ausentar
mão branca me agarrou
olhos de bebê faminto me olhou
e numa noite eu fui feliz pra sempre"

Entre elas


"Erguendo a saia florida
eu a deixei passar a lingua
pentelhos raspados com zelo
eu desejava e morria na boca
iguais os sexos que se derramavam
cheiro de fêmea no cio
ofegantes tanto eu como ela
por mais que pedisse
a minha dela era e a dela minha"

segunda-feira, 4 de junho de 2012

A Branca


"Eu senti
o aço gelado
contra os ossos
e naquele dia
lembrei do amargo
desse caminho
abundantemente quente
vermelho como menarca
era meu sangue
que regava o tempo
que enfim morto
apenas adimirava
sentando em um banco
em qualquer lugar
beberincando tédios
uma vez mais
eu morreria
pela Branca
uma vez mais
seria salvo"

Preso porém

Em alguma hora perdida
quando se olha por olhar
os ponteiros tão pesados
Em alguma hora perdida
quando se cala pela falta do seguir
saliva que fica enquietada na boca
Em alguma hora perdida
você olha ao redor e supõe
de encontro ao concreto o corpo
Em alguma hora perdida
tão pouco nos bolsos é uma dádiva
afogo-me no barato verdadeiro
Em alguma hora perdida
sinto o presente ser mais ausente
o frio começa a incomodar
Em alguma hora perdida
a queda é sempre perfeita
por sorte acordar pela manhã
Em alguma hora perdida
encontro-me contra o concreto
perdido...

Ditadura da arte

"Minha caneta contra o papel
o papel passivo espera
os dois e mais tantos outros
esperando um pesamento cair

dependendo de uma perspectiva
elevar-se depois da última bilís
e do circo alheio eu dou risada
pondo um pé às vezes no palco

Ao invés de excessos variados
são apenas falsas orgias
nem uma gota de suor
tão pouco dormir na calçada

Eu levanto uma garrafa a favor
dou um trago contra
me visto mal
me alimento mal

Vejo o dia nascer do meio fio
apenas do meio para sentir-se vivo
informalmente percebe-se o agora
os olhos secos dizem amor porém"

domingo, 3 de junho de 2012

sábado, 2 de junho de 2012

Encenação a Rei

Morrestes, amigo?
Respiras ainda aliviado em teu lar?
Brindemos agora enquanto começamos a iludir nosso tempo
Estareis vós ainda com as orelhas no lugar?
Te retiras do teu berço pois não és mais criança
saia e veja o mundo morrendo em teus olhos
Advirto-te para não usares máscaras
vejo o cortejo que se segue sem sair do lugar, meu amigo
Embebido jaz em teu túmulo sem ninguém a derramar lágrimas
Vós esperastes o primeiro punhado de terra cair
não te faças de entendido ainda
Teu sangue corre quente com lava
Veja que aqui há outros que ainda dançam suas desventuras
Vós batestes em teu deus ontem à noite
Caminhaste lado a lado com satã
crenças não preenchem as vacuidades da vida, meu amigo
irei embora para encontrar novamente minha razão
Culmina tua lucidez quando o dia amanhecer
no meio de um dia estarei de volta, meu velho amigo
desatando os nós que ainda restam
Morrestes, amigo?
Respiras ainda em teu lar?
Brindemos agora, pois nosso tempo está entregue às traças
Estareis vós ainda com as orelhas no lugar?
Te retiras do teu berço pois não és mais criança